sábado, novembro 13

You don't live here anymore

Talvez a principal diferença entre nós reside nas cidades que escolhemos amar. No nosso caso cidades rivais. Gostei de Lisboa desde o primeiro momento em que entrei nela. Quando a olhei do cimo do Castelo de São Jorge soube que Lisboa era a minha cidade, estendida sobre o meu silêncio, numa espécie de solicitude que nunca soube retribuir. Lisboa com os seus electricos, com os seus vendedores ambulantes, pedintes e desalojados, Lisboa tão cheia de contrastes e imperfeições é a cidade por onde caminho mesmo em sonhos.
Aceitou o meu coração partido e a minha alma faminta de ti, sem perguntas, sem hesitações. Ela vive em mim, independente de ti, das memórias que guardo do teu rosto moreno. A tua cidade cinzenta é só tua, estreita, secreta. Viana é o espaço que temos em comum e até mesmo esta cidade que nos abrigou se vai esquecendo de ti.
You don't live here anymore e escrevo o teu nome como se de um fantasma se tratasse. Desenho com ternura os contornos do teu nome e pergunto àquele lado de ti que sobrevive em mim há anos, se já me esqueceu. Pergunto insistentemente, sinuosamente ao lado mais obscuro do meu ser, porque é que te trago rente.

segunda-feira, novembro 1

Ela, tu e eu

«Ela é para mim aquela que está sempre à minha espera, sentada ou em pé com um livro nas mãos ou no colo, fazendo com que os minutos contem para alguma coisa. Encontro-a sempre assim, pensativa, olhando o horizonte. Chego então junto dela, apressado, como se tivesse desprendido um esforço sobrenatural para a alcançar a tempo de ela desistir e ir-se embora. Nunca o fez, nunca deixou de esperar. Pergunto-me se um dia ela não se irá cansar e não se irá embora cabisbaixa e triste porque eu cheguei tarde demais.»

Eu também sou esta 'ela' às vezes...

Felicidade

Já disse que não procuro a felicidade? Procuro sim momentos onde a infelicidade quotidiana fica suspensa, à espera, no vazio, adormecida, deixando um espaço em aberto para outras coisas poisarem. Sou triste por natureza, muitas vezes tenho o peso do mundo nos meus ombros, uma opressão que de todo não me parece normal. Parece-me inconcebível que os outros consigam viver, respirar sem as coisas que para mim são primordiais, as mesmas coisas que tantas e tantas vezes me oprimem e angustiam. Como é que conseguem viver sem olhar o céu e sentir um arrepio na espinha, sem escutar a voz do meu primo? Como conseguem viver sem a poesia que quero rente, sem a música do eugénio, sem o corpo de um texto?

Night fall all over

Sou marginal, vivo em retalhos, na margem, muitas e tantas vezes no limite da sanidade convencional.

Tenho uma imagem na minha memória: imagino a minha mão no rosto dele, os meus dedos testemunhando o reconhecimento da alma daquele rapaz, de quem há séculos eu não tenho noticias.

1 de Novembro

Olhei o espaço à minha volta e notei pequenas e grandes diferenças. Perguntei a mim mesma como podias tu descansar num lugar assim, tão branco, tão desprovido de vida, com tantos santos à tua volta. Pedi que me abençoasses, neste dia friorento e augustiante pedi que me abraçasses e confortasses por todos os anos da tua ausência. E avô, como seria a minha vida se tu tivesses nela, vigilante, amorosa? Como seria se tu não tivesses morrido à 18 anos, levando contigo a minha meninice?
O cemitério continua distante e frio, o catolicismo continua a inspirar-me temor e frustação.
Sei que vives para além das palavras ocas do padre...

Um hipotético Eu

Esta é uma resposta à clássica pergunta 'como és' do IRC


Bem, gosto das minhas mãos e dos meus olhos e em geral da minha personalidade problemática e delirante.
Não costumo roer as unhas, nem arrancar os cabelos qdo estou nervosa, mas sinto um frio no estômago nos momentos de maior ansiedade.
Gosto de conversar e discutir ideias em bares e cafés, imaginando que estou numa espécie de tertúlia.
Sou tendencialmente de esquerda e gostava de ser mais empenhada politicamente.
Sou preguiçosa e costumo sentir pena de mim própria nos momentos de maior fragilidade.
Tenho cabelos loiros que com o passar do tempo vão escurecendo.
Faço anos no dia 2 de Novembro.
Não sou uma grande e estonteante beleza, mas tb não sou excessivamente feia.
Sou por vezes neurótica.
Gosto de colocar desenhos e poemas nas paredes do meu quarto.
Gosto do Frank Sinatra.
Gosto de finais felizes e torço sempre para que a rapariga fique com o rapaz.
Não choro no cinema, nem me comovo com o pôr do Sol.
E o meu melhor amigo é gay.