domingo, abril 24


Beautiful

O outro, sempre o outro

Reparo que a distância cria as condições necessárias para nos deixarmos embalar pelo delírio, pela imaginação. Travamos relações com personagens que vamos criando. Não existindo o corpo do outro e a linguagem desse mesmo corpo, torna-se muito mais fácil atribuir sentimentos e ausências que de outra forma não existiam. Sem o termos no nosso quotidiano, o outro vai-se ausentando, vai adquirindo uma tonalidade cinzenta. A expressão de sentimentos torna-se mais fácil, porque de certa forma é como se estivéssemos a falar com uma parte de nós mesmos, com uma parte íntima de nós mesmos. Creio que entre mim e ele aconteceu isso. A ausência abriu espaço para a recriação operar e agora custa relembrar quem fomos nas mensagens que trocámos, no espaço de distância que ficou entre nós.

Glimpse

Vou caindo, à espera do momento da colisão com o chão. Sei que as mudanças estruturais da nossa vida dependem apenas de nós e de alguns pozinhos de boa sorte. Mas parece que, por muito que tente não consigo respirar fundo, abrir completamente o peito a essa entrada de ar fresco. Vejo o mundo através de uns óculos desfocados e cinzentos. Sem amor ou paixão vou caminhando, oscilando humores com tristeza, pessimismo com optimismo, bonança com pena.