domingo, maio 29

Not an Ordinary Girl

Sim, escrever é um dom que exige disciplina. É o resultado de um desejo de perseguição árdua e dolorosa, de um desejo de existir para além dos limites da nossa biografia. Exige de nós a coragem de uma definição exacta, exige o assumir de um desejo de identidade, que se reflecte na frase: «eu sou escritora». Eu uso as palavras e o ambíguo dom que deus me deu para colmatar o tédio ou para embelezar uma carta, mas raramente o uso enquanto instrumento de navegação, enquanto portal de passagem para o lado mais íntimo de mim mesma. De tudo aquilo que escrevi ao longo dos anos sobra talvez uma única frase e a certeza de que não somos nós que encontramos as palavras; nós somos apenas um canal para elas se manifestarem.

O caminho é longo e árduo. A escrita, essa personagem feminina, que, em mim é herança da minha avô, deveria perseguir-me, exigir de mim toda a atenção. Ao invés revela-se tolerante de mais e muitas das vezes é apenas um meio de alimentar a minha auto-estima.

In the Meantime...

Tento preencher essa folha, expressivamente branca, que tenho à minha frente. Concentro a minha atenção na promessa de liberdade que ela traz consigo. Mas dos meus dedos só saem banalidades: frases, que embora sendo verdadeiras e transpirem sentimentos honestos não dizem todavia nada de extraordinário. Tento encontrar palavras que digam alguma coisa de sublime, mas o lado extraordinário de mim mesma encontra-se vedado ao meu escrutínio. Esbarro numa inércia que não me larga e durmo, respiro e caminho na ambição de conseguir construir uma frase, que traga no seu código genético a força necessária ao derrube dos muros que teimosamente construo à minha volta. Sou a juíza mais impiedosa da minha vida e, no entanto, consigo ser tão condescendente com a minha preguiça. Com um bisturi disseco as minhas escolhas, as minhas ambições, o meu amanhã. Vou dissecando cruamente até chegar ao âmago de qualquer coisa: um desejo de plenitude e felicidade. As pequenas coisas são pequenas de mais. A felicidade é um delírio em cujas asas não caminha a resposta que quero. Mas as respostas estão para além da minha vontade ou do meu querer. Alguém carrega com elas. E eu sinto apenas que tenho em volta do coração pedaços de vidro enterrados, poeiras espessas que não consigo eliminar.

segunda-feira, maio 9

Books

Sempre gostei de bibliotecas, do cheiro dos livros usados, daqueles livros repletos de impressões digitais, dos livros que viajam e que cruzam famílias, humores, texturas. Por isso não resisto, de vez em quando, a comprar um livro na secção usados da Amazon, pelo prazer que me dá receber em casa um embrulho que atravessou o oceano.
Queria perguntar-te tanta coisa, R. Despejar para cima de ti este manancial de dúvidas, remorsos e culpa que preenche os meus dias. Queria repousar com a certeza de que tu vigiarias a minha temporária rendição. Queria voltar ao banco de jardim da faculdade...

Sérgio


O Sérgio vai fazer seis anos este mês. Ainda me lembro do dia em que telefonei à minha mãe e ela contou-me que a minha tia estava grávida e este miúdo vinha a caminho. E eu cedi o espaço que durante anos ocupei na vida dela. Adoro os olhos do meu menino, a traquinice dele, o meu nome sempre que ele me chama...

God, bless me...

Penso por um momento naquilo que gostaria de escrever.
All the white horses are still in bed...
Talvez o melhor ainda esteja por vir...
Hoje uma estranha pediu a deus para me abençoar... E dois lados de mim responderam a esse pedido, a essa forma de despedida.
Sinto que sou uma manta de retalhos, falta-me uma espécie de nucleo identitário central...

terça-feira, maio 3

[A Mediatização da Cultura]

A Antropologia ensinou-me a pensar microscopicamente, a deixar nas mãos de outras ciências as grandes teorias sobre o funcionamento da sociedade. Daí que temas tão abrangentes como este facilmente se convertem numa dor de cabeça, desafiando a minha paciência e destreza de raciocínio. Não consigo reduzir isto a uma problemática que faça sentido e que sirva, a um nível mais pessoal, para exercitar a minha mente e me tirar da apatia em que ultimamente vivo.
Existem conceitos e temáticas paralelas a este tema; temáticas essas que manuseio com confiança, mas parece-me um disparate apresentar um trabalho de 15 páginas, no qual discurso sobre coisas que não interessam a ninguém. :)

Antonio Variações

Eu só estou bem aonde não estou, porque só quero ir aonde não vou

segunda-feira, maio 2

Lost

Sim, estou perdida, completamente perdida. Pela primeira vez na minha vida tenho que tomar decisões e firmar terrenos e não sei o que fazer, que caminho seguir. De tal forma que sinto que me afundo em mim mesma. Não sei o que quero ouvir, só queria que uma janela se abrisse. Por isso sinto-me patética, uma pateta que tem idade suficiente para ir à luta, para tomar decisões. Mas no meio das vozes que me cercam, não consigo ouvir a minha. E sei que o meu tempo está a terminar, que o aconchego dos lugares que conheço se está a tornar sufocante, que tenho que aprender a caminhar sozinha.