segunda-feira, junho 20

Oh Susan...

Oh, susan, you were clued in
You knew just how this thing would go
A prognosis that was hopeless
From the very first domino
I guess I see it all in hindsight
I tried to keep perspective despite
The flash of the fuse, the smell of cordite

Now I’m in that place again
And I know he can’t come in to get me
And someday he will live to regret me
Susan, I can see it now

Oh, suzie--they get to me
They can really be wearying
But he threw me rope and buoy
Let me use his decoder ring
There must have been some kind of parade
We kissed for a while to see how it played
And pulled the pin on another grenade

Now I’m in that place again
And I know he can’t come in to get me
And someday he will live to regret me
Suzie, I can see it now

Oh, susan, the hope of fusion
Is that the halo will reappear
It may be pure illusion
But it’s beautiful while it’s here
I had some trouble with the goodbye
I checked my roman candle supply
And watched the vapor trail in the sky

But I’m in that place again
And I know he can’t come in to get me
And someday he will live to regret me
Susan, I can see it now

Aimee Mann

Bachelor Nº2


Aimee Mann

segunda-feira, junho 13

Impetuoso, o teu corpo...

(...) é como um rio
onde o meu se perde.
Se escuto, só ouço o teu rumor.
De mim nem o sinal mais breve.

Imagem dos gestos que tracei,
irrompe puro e completo.
Por isso, rio foi o nome que lhe dei.
E nele o céu fica mais perto.

Eugénio

O Eugénio morreu...

Mischief

Afastei-me do mundo que me ‘deu à luz’, em cujo caudal passei a minha infância. Renunciei a ele, a esse universo de fé e de alma, porque a compreensão total das coisas sempre foi outra das minhas obsessões. Troquei esse universo de calor e crença pela frieza de uma ciência que me diz que nós somos resultado de estratégias e delírios identitários. Troquei a literatura pela antropologia mais pós-moderna que consegui encontrar. Enterrei-me nesse niilismo total, na esperança que ele simplificasse a minha vida. Deixei-me seduzir por isso; coloquei num armário, que aprendi a não visitar, a magia de uma crença num mundo para além deste mundo. E depois encontrei um livro e o meu mundo caiu outra vez.

Dream a Little Dream of Me...

Uma das minhas obsessões prende-se com a impossibilidade de anular a distância que vai de mim ao outro, com a incapacidade de aceder ao interior de outrém. Nesta vida sou apenas uma personagem para quem o «grande quadro» se encontra vedado. Só posso responder por mim e nessa solidão humana, atómica me fundo e renasço. Há um verso do António Ramos Rosa que gosto particularmente: «A sabedoria não está em encontrar um tesouro/nem em ocutá-lo mas em saber que não existe nenhum tesouro/e proceder como se ele existisse.» A vida exige de nós um acto de fé, uma prova de confiança. Só sabemos que temos asas quando necessitamos delas para voar. Necessito regressar a casa, deixar de aspirar a uma normalidade na qual não pertenço e abraçar o meu universo uterino que marca a minha escrita e as minhas obsessões. Necessito regressar a uma linguagem que transcenda as palavras.
Gostaria de poder falar ou escrever sem os constrangimentos habituais do medo, ou do socialmente esperado. Gostaria de não viver entre dois mundos, nas margens de uma crença que não consigo aceitar por completo. Infelizmente a minha marginalidade não é total, mas a normalidade a que por vezes aspiro é redutora. Digo constantemente a mim mesma que ando a ver muitos filmes, ou a ler muitos livros e por isso tenho a tendência de viver a minha vida como se vivesse num imaginário cujos contornos e limites não consigo definir por completo. Nunca sei quando estou a delirar excessivamente.

16-02-99

Sou um comboio, avó, sou um pleno comboio, um comboio que prolonga as linhas da tua voz, os invisíveis sons do teu pranto. Amo as linhas do teu corpo, o sorriso que entreabre o teu denso rosto, a trovoada, o esgar de dor com a mesma dedicação. Quero alcançar um mundo que cheire a lençóis acabados de lavar, que tenha o sabor e a textura dos teus cozinhados. Porque só a esse ritmo, só com esse amor nos lábios as coisas ganham sentido. Trago na boca o leitoso sabor do teu seio, enrugado, o cheiro de um membro velho, num corpo gasto, testemunha de anos bem-vindos na cozinha, na tua tão aromática cozinha. Avó, a minha avó do xaile castanho, roto caindo sobre os ombros, a avó do «foi melhor assim» se ao menos soubesses, se ao menos me escutasses quando te falo de dentro das paredes, quando, no meio de lençóis brancos, acabados de estender te grito o meu nome, com loucura, o meu nome, como se se tratasse de um carro que desvairado percorre a estrada, as veias íngremes do teu corpo. Se ao menos soubesses o que me vai no pensamento quando em dias de chuva estendo o meu olhar à noite, quando a tristeza entra mim de rompante, desvairada enche os meus olhos de suplica. Preciso dela para me sentir terna. Não consigo ser infiel à minha alma ou às batidas do meu coração.
Sou um comboio, é certo, desde o tempo em que levava a marmita do avô à estação e ia pelo campinho, carregadinho de uvas; sou um comboio desde o tempo em que apanhava os bilhetes velhos e usados e assim brincava a viajar por entre mundos.
Penso que o meu amor pela mochila às costas, sentido como uma espécie de fidelidade romântica, terá nascido aí, enegrecido pelo cheiro do carvão, pelo peso do comboio sobre os carris, pelo boné na tua cabeça e o apito na tua boca, exasperado pela imagem de um circuito, pela imagem de uma hipotética colisão. Avô, o meu amor pela aventura suave, pelas paisagens que promovem a solidão, pelo silêncio da distância, pelo silêncio em todas as suas formas terá começado aí, no teu colo, nas linhas de uma locomotiva que voava sem eu saber. Porque os livros foram sempre importantes, por as linhas das frases e dos corpos sucumbiram cedo de mais em mim, tenho pelo mundo uma apetência simples e silenciosa. Não procuro grandes revelações, só respostas para algumas perguntas, só o alcance de um amor prazenteiro, lento e escorrido.