Pergunto-me como é que podemos conciliar a necessidade de expressar a angústia e a frustração que o mundo nos inspira com a inutilidade dessa mesma expressão?
Como é que podemos conciliar a percepção da sua existência e do seu peso com a certeza de que a sua expressão em monólogos violentos e linguisticamente brutais representa uma actividade desgastante e inócua?
Tal duplicidade conduz a um dilema. Por um lado, sinto que se não expressar essa inquietude em gestos 'violentos', me estou a render ao inevitável, me transformo num ser pequeno, acomodado, sinto que o meu idealismo juvenil vai dando lugar ao cinismo das idades maduras. Mas, por outro lado, sei que a expressão dessa frustração, que tantas vezes emerge de coisas que sentimos como injustas, é desgastante, faz-me mal, inscreve a angústia no corpo e no humor.
Nesses momentos, em que o peso do mundo se torna insustentável e a frustração se começa a fazer sentir, como um formigueiro, penso nas técnicas terapêuticas da meditação, do relaxamento, nos movimentos rítmicos da respiração. Sei que ceder à angústia do momento não conduz a nada, mas a não cedência faz-me sentir desapaixonada, como se o meu sangue não fosse quente o suficiente para me deixar irritar. Se a vida é paixão, não podemos responder a ela com a brancura do equilíbrio, com a serenidade do ying e do yang, pois não? Se a vida é feita de cores fortes, de vermelhos e azuis, não podemos responder a ela respirando suavemente, pois não?
quinta-feira, fevereiro 3
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