domingo, maio 29

In the Meantime...

Tento preencher essa folha, expressivamente branca, que tenho à minha frente. Concentro a minha atenção na promessa de liberdade que ela traz consigo. Mas dos meus dedos só saem banalidades: frases, que embora sendo verdadeiras e transpirem sentimentos honestos não dizem todavia nada de extraordinário. Tento encontrar palavras que digam alguma coisa de sublime, mas o lado extraordinário de mim mesma encontra-se vedado ao meu escrutínio. Esbarro numa inércia que não me larga e durmo, respiro e caminho na ambição de conseguir construir uma frase, que traga no seu código genético a força necessária ao derrube dos muros que teimosamente construo à minha volta. Sou a juíza mais impiedosa da minha vida e, no entanto, consigo ser tão condescendente com a minha preguiça. Com um bisturi disseco as minhas escolhas, as minhas ambições, o meu amanhã. Vou dissecando cruamente até chegar ao âmago de qualquer coisa: um desejo de plenitude e felicidade. As pequenas coisas são pequenas de mais. A felicidade é um delírio em cujas asas não caminha a resposta que quero. Mas as respostas estão para além da minha vontade ou do meu querer. Alguém carrega com elas. E eu sinto apenas que tenho em volta do coração pedaços de vidro enterrados, poeiras espessas que não consigo eliminar.

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