«O livro da vida é longo e aborrecido». Sinto a aproximação das lágrimas e sei que ao mínimo som íntimo vou começar a chorar. Deixei o meu mundo num único movimento, brusco e repentino. Deixei os sons da minha língua, o sol e as cores do meu país para abraçar a palidez deste espaço imenso e desconhecido. Deixei a poesia musical dos poemas do Eugénio por uma cidade cujos mistérios ainda não conheço.
Sempre vivi de um ponto de vista afectivo em pequenos não-lugares, como se os espaços por onde eu passei nada mais fossem do que portos de abrigo passageiros. A língua era a ponte que os unia, aquilo que dentro deles era comum. Sinto a minha nacionalidade como um anátama. Tento convencer-me que já não sou uma menina de dezassete anos, mas uma spinster de vinte e cinco. Mas a imensidão do desconhecido, o manancial de coisas que ainda não sei assusta-me para lá de todas as medidas. Procuro respirar profundamente e dar um passo de cada vez, procuro estar em silêncio até que a vontade de falar irrompa dentro de mim.
O rosto da despedida vai-me perseguir durante muito tempo e o desejo de dormir eternamente é quase palpável, tal é o desamor que sinto.
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