Hoje vejo a escrita como um meio de alcançar a absolvição, a remissão dos pecados, como um desabafo, no mais tradicional, clérigo sentido do termo. Como se paralelamente ao incenso que queimo no parapeito do meu quarto, pudesse através dela expugnar os meus medos, ou pelo menos registá-los, atribuir-lhes contornos, textura, cor.
Hoje vou percorrer um longo caminho até chegar a casa. Mais tarde, deitar-me-ei na cama e olhando para o tecto vou pensar que a segurança dos espaços conhecidos é também algo precário. Vou recordar o rosto dela, enrugado e feio, mas macio e quente. E pensarei se é verdade que posso mudar o curso da minha vida através das palavras, se é verdade que elas trazem consigo a cura, se a memória também pode ser doce.
Sinto que construí este terrível muro à minha volta e procuro a palavra certa, a fórmula, a oração exacta para converter em algodão a pedra que lhe dá forma. Mas mesmo que hoje encontre esse ‘abre-te sésamo’, sei que o não conseguirei reproduzir no futuro, sei que atingirá o meu entendimento por escassos segundos para logo depois se dissolver nas brumas.
Vivi sempre no limiar das coisas, indisciplinadamente e ainda assim não posso prometer que, mesmo depois deste testemunho de incompetência, irei mudar; que renunciarei ao meu mau feitio, que o trocarei por uma personalidade pomposa e oca. Porque o medo é uma personagem constante, mais forte que qualquer resolução que promova a sua negação sei que futuramente cometerei os mesmos erros, baterei nas mesmas teclas, esperando o regresso a casa do filho prodígio. Esperando que alguma coisa faça sentido e que a absolvição chegue, como uma espécie de banho quente, fumegante e relaxador...
Hoje vou percorrer um longo caminho até chegar a casa. Mais tarde, deitar-me-ei na cama e olhando para o tecto vou pensar que a segurança dos espaços conhecidos é também algo precário. Vou recordar o rosto dela, enrugado e feio, mas macio e quente. E pensarei se é verdade que posso mudar o curso da minha vida através das palavras, se é verdade que elas trazem consigo a cura, se a memória também pode ser doce.
Sinto que construí este terrível muro à minha volta e procuro a palavra certa, a fórmula, a oração exacta para converter em algodão a pedra que lhe dá forma. Mas mesmo que hoje encontre esse ‘abre-te sésamo’, sei que o não conseguirei reproduzir no futuro, sei que atingirá o meu entendimento por escassos segundos para logo depois se dissolver nas brumas.
Vivi sempre no limiar das coisas, indisciplinadamente e ainda assim não posso prometer que, mesmo depois deste testemunho de incompetência, irei mudar; que renunciarei ao meu mau feitio, que o trocarei por uma personalidade pomposa e oca. Porque o medo é uma personagem constante, mais forte que qualquer resolução que promova a sua negação sei que futuramente cometerei os mesmos erros, baterei nas mesmas teclas, esperando o regresso a casa do filho prodígio. Esperando que alguma coisa faça sentido e que a absolvição chegue, como uma espécie de banho quente, fumegante e relaxador...
1 comentário:
A consciência do nosso sentimento trespassa-nos de medo. Cada palavra dita, cada sentimento parece caminhar para um beco sem saída ou um poço sem fundo. Depois aparece a luz. Mesmo que não pareça, as palavras que dizes são a tua primeira luz. E só alguém muito especial pode descrever com palavras o que tu sentes. Só tens de esperar um pouco para que o banho aqueça.
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