Poucas coisas restam. Resta muito pouco. Sinto pouco interesse pela normalidade da vida. Só me restam os livros e os sonhos e o cinzento das pedras. Interessa-me o lirismo de algumas coisas, de algumas imagens repletas de vida ou de tristeza. A tristeza da fatalidade comove-me. Respiro, entro em mim e procuro qualquer coisa, o sono que perdi, a esperança que abandonei ou a teimosia que se foi. Restas-me tu, mas tu já não moras aqui e quando acordo já não te encontro ao meu lado. Conservo o teu cheiro, nada mais. Nada mais tenho, nada que queira ter, só um largo tempo à frente que não sei como ocupar. Estou sozinha, sou uma partícula de poeira, demasiado pequena para provocar tempestades. Não consigo dormir porque a chuva cai no telhado, produzindo o som de pequenos estrondos. Imagino um gato lá estendido, a morrer de frio. Percebo que sou eu que está a esmorecer lentamente. A terra absorve-me, dos meus braços começam a nascer ramos. Criei raízes na minha solidão. Estou só. E a chuva continua a cair lá fora.
quinta-feira, outubro 21
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