A escrita devia ter comigo um rosto excessivamente inteiro, brutal. No entanto é em fragmentos que ela se revela. Aterra no meu quotidiano aos bocados, aleatoriamente. Sem contemplações, sem recuos. O seu humor é oscilante e temperamental. Apenas existe. Mas a sua existência é, em mim, sobretudo caprichosa.
De uma forma convulsiva, de forma integral, com um rosto inteiro, devia perseguir-me, usurpar a minha respiração até ao momento em que eu, sem forças, me rendesse. Não o faz. A sua procura, que termina no começo de mim mesma, é especialmente tímida, vacilante. Os meus passos vagueiam no vazio. Entre fantasmas. Vagueiam entre aspirações e certezas, entre o peso do corpo e a leveza do sonho.
A escrita está em mim como um personagem tangente à minha existência. Mas trata-se de um personagem trémulo, sombreado, um esboço infantil apenas. Não sei por onde me leva. Nem sei aonde reside o seu poder de persuasão. O seu canto é um canto de sereia. É uma personagem que eu sigo com fé, às escuras, às avessas, sem uma grande opinião sobre ela.
Será necessário ter fé para escrever? Será necessário estar no meio de uma tempestade, para que as coisas se revelem com a violência da verdade?
sábado, junho 12
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