quarta-feira, janeiro 5

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Olá R

Recebi hoje o teu e-mail apocalíptico e auto-destrutivo e gostava de ter palavras sábias e esperançosas para te oferecer mas não tenho. Sinto o mesmo fatalismo que descreves, a mesma paralisia em todas as dimensões da minha vida.
O Jorge Palma lançou um novo CD, Norte, mas o Jorge Palma já não é o mesmo: deixou de beber, trocou a boémia pelos ‘patinhos’. Vi-o na televisão com uma cara tão saudável que fiquei a pensar que as coisas realmente mudam e que com a idade até os mais marginais regressam a casa. Eu também sou marginal; eu que nem sequer fumo, que já não bebe, que vivo tristemente sem vícios. Mas a minha marginalidade de espírito vive colada à pele e raramente me larga. Gostava realmente de possuir o cosmopolitismo urbano do D e do M, mas não a verdade é que não possuo. Tenho uma personalidade sonâmbula e taciturna e o contentamento quotidiano raramente me atinge.
Sucumbo ao tédio na minha formação imposta. A faculdade está longe, mas quando me encontro naquela sala fria a ouvir matérias pelas quais tenho apenas repulsa, sinto falta das nossas aulas, da Antropologia, da visão do homem que nos transmitiam. As noções que aprendemos a manejar, que nos ensinaram a olhar o mundo com outros olhos, desconfiados e críticos, não tem lugar aqui. E assim vivo nesse silêncio, por falta de ter alguém, formado nas mesmas matérias, com quem possa discutir ideias.
Deixo todos os dias o computador ligado para “sacar coisas da net”, como diz o meu irmão. Inicialmente vivia na mais completa angústia que lhe acontecesse alguma coisa. Que faria eu sem ele, R? Sem o meu e-mail, os meus E-books, sem os meus documentos mais que pessoais? Sem o meu quarto, sem os papéis, as imagens e os postais que tenho colados na parede? Que faria se não conseguisse aceder aos blogs que leio diariamente? E se se fechassem as portas que me fazem sentir uma cidadã do mundo, o que faria?

Fica bem
D

1 comentário:

calyang disse...

D, há dias em que trocava tudo isso por um momento de normalidade, há outros em que me agarro à minha capacidade de sublimação com todas as mãos. Vive entre mundos e isso raramente funciona. Tu sabes isso...