Chego à conclusão que a escrita é a expressão de um conjunto de hipóteses, é a expressão no papel de um conjunto de experiências literárias. Não importa que ela fale de sentimentos, ou de encontros ou angústias, a escrita é apenas uma forma de trabalhar materiais existenciais, de tentar coisas, de testar a minha tranquilidade. É uma forma de desocultar as fontes. É sobretudo isso, não apenas isso, mas essencialmente um meio de revelação, de revelação de um rosto.
Ouvi deus dizer que eu não era aquela que lavava o rosto na água do rio, eu era o próprio rio, cujas águas corriam ao ritmo do solo, das concavidades, do vento. «Não te preocupes» dizia ele. «O rio encontra sempre a maré.» Não quero a minha água estagnada, é tudo o que posso dizer. Quero que ela corra, limpa, serena, se dilua na terra, nas pedras, como uma força energética. O meu relaxamento funda-se assim, nessa espécie de dialogo que travo. Sinto o meu rosto feito água, sinto a água que corre, sobe e desce, se encontra e se funde. Onde estás que não te ouço, onde habita esse rumor que é a tua voz? Hoje sinto que sou feita de matéria, qualquer coisa sedosa e extremamente frágil. Dói-me o corpo de tanto pensar.
domingo, janeiro 30
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1 comentário:
A escrita é, sem dúvida, a expressão do nosso rosto em cada momento e ajuda-nos a chegar ao local onde estamos, mesmo que não o percebamos. Quando as palavras não chegam, temos de procurar... Acho que as tuas palavras revelam o teu rosto e esse é o primeiro passo. Espero que hoje o teu corpo te doa um pouco menos.
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