domingo, janeiro 30

A poesia do Eugénio

Nos dias em que não há redenção ou conforto possível surge na minha mente a expressão encostar o meu rosto à poesia do Eugénio. A uma poesia, que sabe a água e a sal, que arrefece e aquece ao ritmo das marés, tenho urgência em dizer que a minha paz sucumbe de vez em quando, sobe e desce, esmorece e desperta, dá ao meu rosto uma cor rosada e ao meu corpo um arrepio de frio. A uma poesia que procura na carne e na matéria um alimento ou um regresso a um espaço materno tenho ânsia em dizer que a minha alma precisa de um conforto assim. Nesses momentos sinto-me regressar ao banco do jardim ou ao parapeito da janela. Encosto, então, a minha tranquilidade sob os joelhos e ainda que não saiba das palavras exactas do Eugénio sei do ritmo que as envolve, sei dessa procura pela exactidão, sei do cheiro e do odor, sei do movimento desses versos, sei desse corpo que se estende, desse corpo que quero azul, sei desse país onde teu corpo principia. Vou recitando extractos de alguns versos que recordo. Que mais posso eu dizer? Que mais posso eu pensar para além do universo comum de incertezas em que me movo, esperando que um milagre aconteça, rente à carne e ao sangue, rente a todo o amor que as minhas palavras são capazes de exprimir? Que faço eu aqui (stupid question, I kown), porque é que não atinjo aquele bem-estar especial, completo, porque é que não encontro, pelos caminhos em que me movo a beleza da revelação, aquela percepção do sentido das coisas?

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