«(...) Continuo com aos 18 anos a sonhar com 'other versions of reality'. Às vezes é mesmo um desejo escapista de outras paragens, às vezes é mesmo como uma canção de António Variações, o mero estado de alma de 'só estou bem onde não estou' (...)»
Miguel Vale de Almeida
Olá R.
Começo a minha carta com uma citação do Miguel. Ando a reler o último livro dele, numa tentaiva de trazer a Antropologia de volta à minha vida e alimentar, dessa forma, o projecto da minha cidadania. :)
O que considero particularmente fantástico no livro é a forma cristalina com que ele trabalha um conjunto de dúvidas, interrogações e desabafos que há anos faz parte das nossas vivências académicas. Desde a definição de Antropologia, ao papel que se espera de um docente nesta área, passando pelas motivações que levam jovens de 18 anos a enveredar por este curso, tudo se encontra lá, como se ele tivesse registado graficamente todos esses questionamentos e inquietações que caracterizavam as nossas conversas de café.
Por minha parte nunca concebi a Antropologia como mais uma licenciatura, cuja a única mais valia seria providenciar um canudo sem exigir muito trabalho, nem muita fidelidade. A Antropologia deu-me, pelo menos, acesso a essas outras versões da realidade. Se não me garantiu um acesso completo, pelo menos, mostrou-me a existência dessas 'other versions of reality'. Se, por um lado, me facultou os instrumentos para perceber como funciona o mundo que me rodeia, por outro lado, exigiu que usasse esses mesmos instrumentos e ferramentas para pensar a minha própria vida e os mecanismos inerentes à construção dos meus próprios delírios. É, por isso, que não tenho uma relação pacífica com as minhas memórias, com os espaços, com os outros, com a minha afectividade. E porquê? Porque descubro por detrás de tudo isso estratégias, mecanismos, dinâmicas ocultas. Eu sou também o outro e essa constatação leva-me a viver nas margens de dois universos, experimentando um equilíbrio precário entre as várias faces do meu self.
segunda-feira, janeiro 17
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1 comentário:
É curioso como, apesar das nossas opiniões e interesses por vezes fora da nossa área (nossa, de cada um de nós) somos tão influenciados pela nossa formação académica. Não sei nada de Antropologia mas parece-me um assunto algo mal resolvido para ti. Sei um pouco (muito pouco) de ciência. A prática da ciência foi um assunto que resolvi à alguns anos quando percebi que não podia ser cientista (falta de jeito...) mas que talvez desse um professor razoável. Espero que o seja. Quanto a ti, e para uma visão completamente diferente do mundo, tenta Thomas Kuhn e o seu fabuloso livro "A estrutura das revoluções científicas". Conheces? A edição em português é do brasil mas arranja-se com facilidade.
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