Escreve Borges todos os caminhos levam à morte, perca-se.
Perco-me para não olhar a morte nos olhos, para escapar ao pesadelo de começar tudo outra vez, desde a mais tenra infância. Mas o que é que entendo por morte? É da morte dos membros de que falo? É a morte da esperança e do optimismo? É da tua morte? A morte é um fantasma que surge quando não consigo dormir, quando a cabeça não se ajusta às concavidades da almofada. Surge a morte nesses momentos, junto às sombras na parede, na palpitação do coração, que não se acostuma aos ruídos do escuro. Os meus sonhos são pequenos. Mas será que existem sonhos pequenos? Imagino-me livre de medos, capaz de largar os labirintos nos quais constantemente me perco. Parece-me que existe um conjunto de coisas que se colam a nós, que teimamos em manter perto, porque nos parece que a vida sem elas não faria sentido, como se elas sustentassem qualquer espécie de delírio, qualquer espécie de auto estima, ou de segurança. Mantemos perto, rente a nós, não abrindo canais para que a água corra sem barreiras para além das margens, aquilo tudo que nos parece que resume a nossa personalidade. Às quatro da manhã encontro-me sentada na secretária do meu quarto, junto à janela olhando para a noite lá fora. Não consigo dormir e chego à conclusão que as insónias são muito glamorosas nos livros mas que na vida real despertam a loucura dos membros. Tento ler, tendo ouvir música, mudo de posição, volto à cabeceira da cama, nada. O sono tarda em chegar. E o sono que chega não é tranquilo. Vem povoado de fantasmas e dos rostos que habitam o meu quotidiano, rostos transfigurados pela fadiga, pela sonolência.
quinta-feira, maio 20
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