domingo, janeiro 30

Boys & Girls



Como gostaria de ser um puto de seis anos, com um amigo imaginário, uns pais neuróticos, capaz de fazer as caretas mais incríveis, e ter os pensamentos mais bizarros. Trocaria os meus problemas existenciais pelas questões filosóficas e morais que atormentam o Calvin. Seria bom ter o Hobbs como amigo, para pedir conselhos e para despejar a opressão que tantas e tantas vezes sinto presa ao peito, como uma força, um desabafo em suspenso, violento e doloroso, como se se tratasse de um ruminar lento que não cessa. Apanho pedaços de entusiasmo pelo caminho, pedaços pequenos e transparentes, não densos, não persistentes; o meu tédio é mais teimoso que a energia que me habita.
Com tudo isto vem a culpa e o ressentimento, vem aquilo que não sobrevive à minha auto-estima, vem a sensação de que tenho algo para fazer e que o alcance de um respirar suave e tranquilo passa pela concretização dessa tarefa. Nem vale a pena pensar em encostar o meu rosto a um poema, porque as implicações morais da minha inércia ultrapassam o lado romanesco e mágico que quero rente à minha vida.

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