domingo, abril 24

O outro, sempre o outro

Reparo que a distância cria as condições necessárias para nos deixarmos embalar pelo delírio, pela imaginação. Travamos relações com personagens que vamos criando. Não existindo o corpo do outro e a linguagem desse mesmo corpo, torna-se muito mais fácil atribuir sentimentos e ausências que de outra forma não existiam. Sem o termos no nosso quotidiano, o outro vai-se ausentando, vai adquirindo uma tonalidade cinzenta. A expressão de sentimentos torna-se mais fácil, porque de certa forma é como se estivéssemos a falar com uma parte de nós mesmos, com uma parte íntima de nós mesmos. Creio que entre mim e ele aconteceu isso. A ausência abriu espaço para a recriação operar e agora custa relembrar quem fomos nas mensagens que trocámos, no espaço de distância que ficou entre nós.

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