segunda-feira, junho 13

Dream a Little Dream of Me...

Uma das minhas obsessões prende-se com a impossibilidade de anular a distância que vai de mim ao outro, com a incapacidade de aceder ao interior de outrém. Nesta vida sou apenas uma personagem para quem o «grande quadro» se encontra vedado. Só posso responder por mim e nessa solidão humana, atómica me fundo e renasço. Há um verso do António Ramos Rosa que gosto particularmente: «A sabedoria não está em encontrar um tesouro/nem em ocutá-lo mas em saber que não existe nenhum tesouro/e proceder como se ele existisse.» A vida exige de nós um acto de fé, uma prova de confiança. Só sabemos que temos asas quando necessitamos delas para voar. Necessito regressar a casa, deixar de aspirar a uma normalidade na qual não pertenço e abraçar o meu universo uterino que marca a minha escrita e as minhas obsessões. Necessito regressar a uma linguagem que transcenda as palavras.
Gostaria de poder falar ou escrever sem os constrangimentos habituais do medo, ou do socialmente esperado. Gostaria de não viver entre dois mundos, nas margens de uma crença que não consigo aceitar por completo. Infelizmente a minha marginalidade não é total, mas a normalidade a que por vezes aspiro é redutora. Digo constantemente a mim mesma que ando a ver muitos filmes, ou a ler muitos livros e por isso tenho a tendência de viver a minha vida como se vivesse num imaginário cujos contornos e limites não consigo definir por completo. Nunca sei quando estou a delirar excessivamente.

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