quarta-feira, outubro 26

Depois das Férias....

Encontro a janela do comboio mutilada por uma parede, resultado dos exigentes confortos modernos que transformam uma simples viagem de comboio em qualquer coisa de claustrofobico. Gosto de espaços abertos e da ilusão de tempo infinito, mas aqui sinto-me fechada, estranha.

As minhas férias terminaram e o tempo de sol e mar, de almoços com os pés cheios de areia e o corpo cheio de sal vai dar lugar aos espaços conhecidos do quotidiano, à previsibilidade das emoções, à rotina diária. Deixei o D na plataforma da estação; deixei-o tão repentinamente que nem me ocorreu pensar que provavelmente só o voltarei a ver daqui a muito tempo.

A forma como nos relacionamos com os outros continua a ser um mistério para mim. Assimilamos pareceres sobre eles e sustentamos as nossas relações com base neles. Mas na realidade nunca chegamos a conhecer ninguém, pois não? No processo esquecemos que somos volúveis, que mudamos, que consoante o tempo passa vamos alcançando um maior respeito por nós mesmos e uma maior autonomia. O D está igual e diferente ao mesmo tempo e sinceramente não consigo ultrapassar a sensação de que sou apenas mais um nome na agenda telefónica dele, nem sempre necessário e por vezes esquecido. Um nome que permanece lá, por capricho ou teimosia.

Acabei de passar por Coimbra e viajo ao som da música e do vaivém dos outros. Estou longe de ter aquela aura de mulher sofisticada ou de jovem hippie que viaja sozinha, sem muitos recursos, apenas com a bagagem cultural que possui. Sou alguém perdida entre dois mundos, com os meus chinelos de dedo e o meu cabelo solto. De qualquer das formas, após uma semana a tormar banhos em comunidade, a dormir numa tenda indiscreta, a acordar todos os dias com os primeiros raios de sol e com a respiração de um outro rente ao ouvido, sinto-me tudo menos sofisticada. Sinto-me cansada e com fome, com vontade de me estender na cama e romanticamente adormecer.

1 comentário:

Anónimo disse...

Se o D. te tem num plano tão secundário, pergunto eu: porque é que em Lisboa passava os dias contigo?? Porque é que agora te envia todo e cada mail minimamente engraçado?? E porque é que, depois de 2 ou 3 meses sem acrescentar nada a este blog, o D. continua a visitá-lo diariamente???...
Alguém ficou ligeiramente deprimido ao ler este post...

Enoch